quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Os jornais e suas asneirices

Certo, agora é tanta coisa pra falar que não dava mais pra ser comentando no facebook... Agora virou um post pro meu blog.

Tudo começou com essa matéria, publicada em um jornal pago:
E depois, o editor-chefe do jornal publicou essa:

Primeira coisa que me intrigou no texto do Sr. Editor-chefe foi a palavra “asneira”, que tive o prazer de verificar os sinônimos: “burrice, bobagem, absurdo, criancice” e por aí vai. Sendo assim, pela minha lógica (que acredito estar certa), “horóscopos, novelas e coquetéis” são exemplos de absurdos ou (a que eu mais gostei), criancices.
Segunda coisa não foi nem a parte de dizer que a região é essencialmente agrícola e pouco esclarecida (já que realmente é essencialmente agrícola (e também é o pólo tecnológico do sudoeste do Paraná, né não?)), mas sim dizer que “poucos são inteligentes o suficiente para entender os erros que ocorrem blábláblá” e isso depois de dizer que “o dia a dia do jornalismo talvez seja uma das tarefas mais árduas e complexas de se trabalhar”.

Bom. Muito bom. 

Agora eu fico pensando: por que uma pessoa que é paga para fazer o que faz se vê no direito de ofender seus clientes? Será que esse não é um típico caso de um ser “pouco esclarecido e inteligente o suficiente”? Afinal, até onde eu aprendi nessa vida, chamar teu cliente de burro não é lá uma coisa muito inteligente a se fazer... E outra coisa: se a profissão é assim tão difícil, então para a excelência não era necessário ser inteligente? Ahhh, mas claro, temos que ser inteligentes o suficiente para entender que eles não são atentos e inteligentes o suficiente pra fazer o trabalho deles... Nossa, deu um rolo na minha cabeça... Primeiro porque tenho sinceridade em falar que, pra mim, todos os jornalistas são inteligentes. Não sei se há exceções, simplesmente admiro a profissão, que realmente deve ser estressante e cansativa, além de extremamente criticada.

Depois, porque na minha área, eu não me vejo nessa facilidade de fazer meu trabalho errado (e com um erro “relativamente” grosseiro) e ainda poder falar para Deus e todo mundo que o meu cliente é crianção e adora asneiras.

Mas vamos imaginar outras situações parecidas com essa:
- Uma que eu citei ontem: você sendo dona de um salão de beleza... e aí você coloca um cartaz enorme na porta dizendo algo assim "suas ignorantes, pq vcs nao raspam a cabeça de uma vez ao invés de virem aqui fazer escova toda semana??? Estou cansada desse tipo de asneira, façam-me o favor de só virem cortar o cabelo, pq fazer escova não as deixará menos feias do que já são" ;
- Ou um médico: “Meu, você é gorda e feia pra caramba, você acha mesmo que essa lipo adiantou alguma coisa? E agora me pague meus 7 mil reais e caia fora daqui, que não quero mais ver a tua cara... Ah, claro, a não ser que você resolva fazer uma plástica facial, aí eu topo”;
- Na minha área, o cliente pediria pra eu solucionar um erro com o endereço e eu implantaria uma solução para um erro, que não existe, com o imóvel da criatura.

E ainda, agora me veio na cabeça: se eles trocaram Paraguai por Argentina, então se eu pedir pra pintar o cabelo de loiro e a mulher pintar de azul ta tudo certo... No outro dia ela me chama de idiota e diz que realmente eu estava certa em dizer que ela cometeu um equivoco... Ou ainda, se eu for fazer um transplante de córneas, ele faz uma plástica no meu nariz... Aí no outro dia, quando eu ficar indignada com ele, ele me diz que eu não sou inteligente o suficiente pra entender que ele pode cometer erros...
Estou radicalizando? É bem possível, costumo ser radical quando me empolgo...

Enfim, deixemos ele pra lá... Como eu também disse ontem: não conheço esse cara e, sinceramente, nunca li esse jornal... Mas ele teve um dia realmente infeliz, principalmente depois de publicar a indignação dele dessa forma... Se pensar beeem pelo lado dele, e sabe-se Deus o que ele deve ter escutado dos tais telefonemas, tudo bem ele estar indignado... Mas da forma que ele colocou no texto, ficou um tanto quanto ofensivo para os demais leitores (se não para com todos, não é?)... Ele pensou será na repercussão desse texto para as pessoas que acreditam em horóscopo? Ou nas que assistem novela? É muito questionável...

O que me fez escrever esse texto foi uma palavrinha mágica, que eu A-DO-RO (sou inteligente o suficiente até pra soletrar “adoro”, imaginem então pra a silabação, rsrsrs): “Hipócritas”.

Hipócritas,  (...).
(...) pelo que vi, só souberam falar da turma da mônica, macacos e ainda até entraram no assunto estético, já que "todos" almejam isso. Isso nada mais prova que tudo que o jornalista falou é verdade.
Defendo ele, pois convivo diretamente com esse tipo de pessoa, principalmente no meu trabalho, onde importa mais se eu to com camisa bem passada ou mal passada, do que se eu fiz um bom trabalho, importa aparência, fui discriminado por ter cabelo comprido, e garanto que está sociedade se importa mais com asneiras, e menos do que realmente é necessário.
Quantos de vocês foram a um evento cientifico, tecnológico, cultural, debate da câmara de vereadores, ou qualquer evento do ramo ao invés de ir a um estádio de futebol e ver um jogo (...) e agora o melhor, QUANTOS COVARDES QUE ESCREVERAM AQUI REALMENTE NAO SÃO COVARDES PARA ESCREVER UM ARTIGO E POSTAREM EM UM JORNAL DEFENDENDO SEU PONTO DE VISTA E PROVANDO, VEJA BEM PROVANDO, QUE O JORNALISTA" ESTA ERRADO?
Quantos aqui, vem a crítica como algo positivo? algo que com a qual podemos aprender, aceitar e se quiserem evoluir? Ou é simplesmente mais fácil dizer eu to certo e você ta errado e foda-se??????

Pelo que entendi, somos hipócritas em reclamar do texto publicado pelo editor, já que realmente somos colonos e pouco esclarecidos e, inclusive, somos asnos, pois assistimos novela e lemos horóscopo (e não, eu, particularmente, não curto novela e não leio horóscopo). Porque até onde eu sei, hipocrisia é isso não é? Faz pouquíssimos dias que eu falei sobre isso neste mesmo blog... Em uma explicação simples, já que não somos inteligentes o suficiente para entender uma explicação complexa, hipocrisia é você falar mal de uma pessoa por ela estar fazendo uma coisa que você também está fazendo... É como disse Jesus (sim, estou citando Jesus...): “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.”
A segunda coisa que entendi claramente é que somos covardes, pois respondemos à publicação (sobre o texto do editor) mas não escrevemos artigos a serem publicados no jornal provando que o jornalista está errado.

Nesse ponto eu tenho uma dúvida: um editor-chefe que chama seus clientes de asnos publicaria no jornal um artigo falando que ele não é inteligente o suficiente pra fazer o trabalho dele (pois então essa pessoa, que escrevesse esse artigo, seria obviamente uma pessoa bem esclarecida e com inteligência suficiente)? Novamente cabe uma analogia: depois de fazer um péssimo trabalho, ofender o seu cliente (pois apesar de você estar errado, o teu cliente é que é um asno), você colocaria um cartaz na porta do estabelecimento com um artigo do cliente indignado provando que você estava errado? Eu não sei por que, mas acho que a resposta é não...

Ah sim, me lembrei... Minha mãe várias vezes escreveu artigos excelentes e pediu pra publicar no jornal que ela assinava... Sabem o que aconteceu com os artigos dela? Nem eu. Com certeza absoluta ninguém acharia que minha mãe era pouco esclarecida com aqueles artigos, e muito menos que era desprovida de inteligência. E é aí que minha questão fica reforçada: será que não é muito mais fácil achar que teus clientes são todos “idiotas” e ficar publicando “asneiras”, do que publicar artigos de leitores esclarecidos que estão cutucando as onças com a vara curta? Pra ele seria mesmo mais interessante um artigo falando sobre os projetos de lei que “podem mudar sua realidade ou não”, ou falando sobre a realidade das escolas, ou sobre a falta de caso da prefeitura, ou sobre o absurdo que é o Estatuto da Criança e do Adolescente? Sinceramente acho que ele deve se sentir muito mais confortável em publicar asneiras e receber reclamações de seus clientes menos esclarecidos do que publicar textos relevantes e receber reclamações de pessoas monetariamente mais esclarecidas (analogia: post intitulado: Não sei o que dizer...”).

Ok, resumindo a história das publicações no jornal: erraram, receberam reclamações e, indignados, publicaram um artigo falando que o pessoal menos esclarecido prefere asneiras como horóscopos e resumos de novela do que artigos falando que a presidente da Argentina foi reeleita no Paraguai.

Resumo da minha interpretação do comentário motivante deste texto: não interessa se o editor chefe está errado ou não em ofender seus clientes depois de reclamações a respeito de um erro grosseiro cometido pelo jornal... O fato é que somos hipócritas, pois ao invés de provar que o jornalista estava errado, só ficamos mudando de foco e falando sobre “asneiras” (li e re-li os comentários e ainda não descobri qual realmente foi o comentário que mais o indignou, mas obviamente há uma mensagem “subliminar” para comigo, pois dos três exemplos de covardia expostos, dois foram colocados por mim e, aliás, já que prestou tanta atenção aos meus comentários, por que não me citou defendendo o lado do jornalista e tentando esclarecer que o dia do indivíduo deve ter sido realmente muito complicado? Ou então por que não deu importância e atenção às minhas analogias ao dizer que ele não está no direito de ofender os clientes? E quando falei que um amigo infeliz também escreveu um texto no auge da indignação e acabou sendo terrivelmente mal interpretado, obviamente expondo que devemos primeiro nos acalmar antes de sair chamando todo mundo de asno/macaco e “pouco inteligente e esclarecido”?). 

Aliás, por falar em mudar o foco, o que mesmo tem a ver um editor-chefe que ofendeu seus clientes com os amantes do futebol?
Então é absolutamente justificável fazer uma analogia de "clientes pouco esclarecidos" com "amantes do futebol", mas não é válido analogias com "macacos" ou "salões de beleza"?

E ainda: será que não estamos todos aqui sendo hipócritas? Será mesmo que entendemos o comentário dos outros ou simplesmente ficamos indignados e clicamos no “OFENDER ON”?

O objetivo dessa monstruosidade de perguntas sem respostas e desse monte de linhas é fazer as pessoas PENSAREM. Pensar antes de escrever, antes de falar, antes de criticar e antes de cometer qualquer ação, principalmente (nesse caso) ao chamarmos os outros de hipócritas. Sim, inclusive eu, pois já me declarei hipócrita.


E pensar também antes de escrever comentários ofensivos ao meu texto (tenho uma bola de cristal aqui em casa, tatuada nas minhas costas), já que eu deixei bem claro (e só faltou desenhar):

- Que posso até entender o editor-chefe do jornal, mas que entendê-lo não justifica a ofensa;
- Que se você vai criticar a analogia dos outros chamando-os de hipócritas, não continue sua censura com analogias;
- Posso ter errado, mas justificar a “ofensa” me chamando de covarde e hipócrita não é exatamente o modo certo de me criticar;
- Não se ofende um cliente, nem os “clientes grátis”... Cliente é cliente e merece respeito... Se o cliente está agindo erroneamente, não é com ofensas e mais erros que você o corrigirá;

E o resumo do resumo é: se o cara quer expor a indignação dele quanto à “asneirice” dos seus clientes, que faça-o em um blog pessoal e não em um jornal pago pelo coitado do “leitor pouco esclarecido” que está sendo ofendido.

E... Se “xingar sem um argumento válido é sinal de hipocrisia”, xingar os hipócritas com palavras ofensivas como “covardia” e perguntas cujas respostas podem ser “de calar a boca de qualquer um” também não é ser hipócrita?

E, aliás, temos aqui um ativista??? Uma pessoa que inicia protestos contra a corrupção, assiste debates da câmara de vereadores, publica artigos no jornal provando que o jornalista está errado, e que não aceita simplesmente dizer que o outro está errado (com sugestões possivelmente errôneas de covardia, por exemplo) e foda-se? 
Quero me filiar ao seu partido. Procurarei comparecer à todos os panelaços contra a corrupção e outras anomalias inconformáveis.
Precisamos muito mesmo dessas pessoas intelectuais que não ficam somente chamando os outros de covardes, e sim que vão à luta pelos nossos direitos.

Eu preciso evoluir nessa questão... A única coisa que fiz até hoje foi um protesto em frente ao congresso nacional contra o trabalho infantil e participar da greve da categoria este ano, além de algumas opiniões bastante construtivas para melhorias no ambiente de trabalho. Ah, e claro, pensar antes de votar e tentar fazer o melhor possível. E claro, sempre prefiro uma super interessante à um artigo falando no novo affair da fulana, e também não curto futebol, o que deve ser um ponto positivo.

Eu também sou colona, posso ser grossa e estúpida, mas de forma alguma minha intenção foi ofender alguém com esse "post-blábláblá" gigante. A intenção é abrir os olhos, os meus e os de vocês. E caso tenha ofendido alguém, humildemente peço perdão (e eventualmente posso retirar o post do blog em casos de pedidos educados).

A bem da verdade, por mim podem reparar só nas partes em que eu comentei sobre o bendito do editor, o resto foi mais por ter "vestido o chapéu" e também por acreditar que "tenho inteligência suficiente" para entender mensagens subliminares...

2 comentários:

  1. Pelamordedeus!
    Está na hora de sair para trabalhar e eu aqui lendo o "textozinho" de dois metros falando de um jornalista. Mas vc está coberta de razão, é claro, pois quando se começa um assunto é preciso ter argumentos para continuá-lo, sem ficar ofendido com respostas ou opiniões em contrário.
    Gostei do texto. Parabéns!
    E quanto a dizerem que a presidente da Argentina foi reeleita no Paraguai, equivale à apresentadora do Bom dia Brasil, da Globo, chamar a nossa presidenta de Lula.
    Aliás, no jornal daqui sempre publicavam notícias sobre a reforma da Escola Pedro Algeri. Quando eu reclamei dizendo que tal escola não existe, e que o prédio em questão é da Beatriz Biavatti, a resposta do sujeito foi que eles têm muitas matérias para publicar e às vezes podem cometer erros. Ao que eu respondi que nós também temos muitas matérias para ensinar, mas nunca diríamos que a Batalha do Riachuelo deu-se na guerra do Paraguai.
    É isso.
    Mami

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  2. e depois disso ele não dormiu tranquilo hahahahaha

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