Li
uma notícia outro dia (BBC Brasil), falando que tem uma espécie de sindicato
defendendo trabalho infantil em alguns países latino-americanos (sugiro leitura
da noticia pra saber exatamente do que se trata).
Grr,
esse assunto, sinceramente, me irrita. Vou tentar explicar, mas já aviso que
provavelmente eu me perca em tanta coisa que tenho pra falar...
Primeiro,
vamos às fontes:
Tem
um texto interessantíssimo publicado na Rede
Social de Justiça e Direitos Humanos. No decorrer da leitura, fala muito
que as crianças são exploradas em áreas como prostituição e trafico de drogas.
Mais
abaixo, lê-se o seguinte:
“O trabalho infantil
na região urbana se encontra principalmente no setor informal, (...) sendo que 16% do
trabalho doméstico não é remunerado. (...) Já no meio rural, dois terços das
crianças e adolescentes não recebem salário. Esse índice inclui as crianças que
trabalham com suas famílias. (...)”
“(...) A inserção no trabalho nas famílias de imigrantes
italianos, alemães e poloneses do sul do país representa uma maneira de ensinar
um ofício e ajudar na renda dos pais. Embora comecem o trabalho muito cedo,
essas crianças não deixam de freqüentar a escola. Uma situação bem diferente é
a das crianças que trabalham pesado, sem nunca freqüentar a escola.”
E, claro, não dá pra deixar de citar o documento da
Secretaria de Direitos Humanos: Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil
e Proteção ao Adolescente Trabalhador
- “(...) são deveres da
família, da sociedade e do Estado: “Assegurar
à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá‐los
a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão”. “
- “(...) considerando como exploração qualquer espécie de
trabalho que prejudique a escolaridade básica.”
- “(...) piores formas de trabalho infanto‐juvenil, classificadas em quatro categorias:
a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à
escravidão, como vendas e tráfico de crianças,
sujeição por dívida e servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive
recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em
conflitos armados;
b) utilização, procura e oferta de criança para fins de
prostituição, de produção de material
pornográfico ou espetáculos pornográficos;
c) utilização, procura e oferta de crianças para atividades
ilícitas, particularmente para produção e tráfico
de drogas, conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes;
d) trabalhos que, por sua
natureza ou pelas circunstâncias em que são executados, são suscetíveis
de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança.”
- “(...) Mas basta observar o
cotidiano atual para perceber indícios de que ainda subsistem fortemente os
elementos do velho paradigma. Muitas famílias continuam a enxergar o
trabalho de crianças e adolescentes como uma forma de “prevenção” contra os
males da marginalização. Convencer muitos setores
da sociedade e do Estado do fato de que não é o trabalho precoce, mas
sim a educação, que pode garantir um futuro melhor,
continua a ser um grande desafio.“
Depois
de ler tudo isso eu fiquei mais calma, mas mesmo assim preciso dizer que me dá
uma raiva imensa dessa gente que se importa demais com os outros. Pra começar
que eu acho que se as crianças querem trabalhar, deixa que trabalhem. E chega
de comparar trabalhos domésticos com prostituição e tráfico de drogas!
Lendo,
percebi que eu faço parte da população que tem a “mentalidade perversa”, e que
acha que criança tem que trabalhar...
Lógico
que eu sou contra crianças trabalhando com drogas, prostituição, plantações de
cana e essas outras formas de trabalho mais abusivo, mas comparar essas formas
de exploração com o trabalho “caseiro” é sacanagem.
Eu
acho sim que criança pode ajudar a lavar uma louça e que não precisa ser paga
por isso... Qual é? Quem limpa a casa tem que ser a mesma pessoa que paga as
contas, única e exclusivamente? Ou então devemos voltar praquela época em que
um trabalhava e o outro cuidava da casa?
Hoje
em dia empregadas domésticas são artigo de luxo... Aqui onde eu moro não é
fácil “sustentar” uma espécie rara dessas. Além de ter poucas no mercado, ainda
por cima custa uma fortuna (em média 100 reais por um dia de trabalho... As que
eu conheci não trabalham as 8 horas). Considerando esse fato, não tem como
trabalhar e ainda ter uma empregada.
Aí
vai um pouco da minha criação, que foi em outra época (que não era chata e
cheia de regras como essa... A época em que criança respeitava pai e mãe, assim
como a professora), pois eu comecei trabalhar em casa quando deu a idade (acho
que em torno dos 14 anos).
Óbvio
que eu reclamava até pelos cotovelos, mas isso é porque adolescente reclama de
tudo mesmo e não tem noção de quanto custa trabalhar pra pagar as contas... Mas
depois que cresci, percebo que ter trabalhado foi bom... Hoje em dia eu sei
cozinhar, limpar a casa, lavar e passar roupa... Eu não acho que fui explorada,
eu ganhava as roupas que queria, os calçados que queria, tinha minha maquiagem,
meus brinquedos, meu material escolar sempre em dia... Não tinha tudo o que
queria e quando queria, mas ganhava. Eu trabalhei como babá por uma época
também, e eu tinha meu próprio dinheirinho, podia economizar, controlar as
moedas e fingir que era gente.
E
tem o seguinte: pra fazer “tudo” o que minha mãe mandava eu demorava
pouquíssimo (variava considerando a vontade de fazer e quanto eu demoraria
bolando planos pra sabotar minhas tarefas sem minha mãe perceber), e tinha
tempo de sobra pra brincar com minhas amigas, fofocar, escrever no diário,
estudar (não que eu gostasse) e ligar na rádio pedindo pra tocar as músicas que
eu queria gravar na fita.
Eu
(e grande parte das pessoas da minha faixa etária e de faixas anteriores) sou a
prova viva de que (pouco (vejam bem: eu estou não estou falando de escravidão,
chicotada pra quando esquecer de lavar o cantinho do banheiro e deixar sem
comida!)) trabalho infantil não atrapalha a educação, a moral, a hora de
brincar e enfim, não atrapalha em nada.
E
aí, falando de estudar, eu me lembrei de mais uma questão: querem tanto que as
crianças só estudem, mas e quem disse que criança quer estudar? Sim, eu sei que
temos exceções, mas eu nunca conheci uma dessas quando eu estava na escola...
Ir pra escola e ter que prestar atenção já era um tédio, mas ter que fazer
trabalho em casa e estudar pra prova era demais...
Quero
dizer com isso que não adianta você “forçar” a criança a estudar. Comigo
funcionava o “se você não passar de ano você vai ver só!”, “se você tirar nota
abaixo da média você vai ver só”, mas é porque eu me borrava de medo do “vai
ver só” (e além disso eu não queria ser mais burra que meus irmãos mais
velhos).
Se
você não deu a educação básica pro teu filho ele não vai estudar nem em casa e
nem na escola, porque hoje em dia só obedece professor quem quer.
Na
escola, quem não quer estudar pode escolher dois caminhos: ficar quieto ou
incomodar. Quem optar pela segunda opção geralmente vai agredir todo mundo,
física e/ou psicologicamente e o máximo que o professor pode fazer é falar. Se
falar não adiantar, ele leva pro coordenador, e depois pro diretor. Convenhamos
que se o aluno for mal educado, ele não vai ligar pra nada do que os três
falarem. Aí chama-se os pais do meliante, e se os pais não conseguiram ensinar
antes, qual a diferença pro “agora”?
Eu
não conheço formas de “forçar” as pessoas a fazer coisas que elas não queiram
fazer... Você não convence ninguém a pagar uma conta que não queira a não ser
que a pessoa corra o real risco de ir presa por isso. Você não convence ninguém
sem perigos reais, e ameaçar crianças a ficarem sem o brinquedinho preferido ou
a não poder sair do quarto, sinceramente, não é nenhum perigo.
(O trechoa seguir foi sugestão do Alexandre, pois eu não tinha explicado direito a ideia)
Também não adianta tentar “forçar” (novamente esse forçar que não existe) a
criança a trabalhar, a estratégia então seria convencê-la de que será bom para
ela, para que não se torne uma “obrigação”. Como fazer isso eu não sei, mas
creio que estimular com prêmios, presentes e coisas que você não costuma dar
pra ela (um jogo de lápis de cor com mais de 12 cores, por exemplo, hahaha
(sério, isso teria funcionado comigo!))... De qualquer forma, na minha humilde
e antiquada opinião, é melhor ocupar a criança com afazeres, seja lá quais
forem(domésticos ou ajudar os pais no comércio da família, por ex), do que
deixá-los “à Deus dará”, apenas com o livre arbítrio de escolher entre estudar
e brincar. Sim, jogos educativos também seria boa ideia, pois então você poderia
deixar a criança “brincando” o dia inteiro, pois ela estaria estudando e nem
perceberia... Outra ideia seria fazer alguma coisa que estimule a criança a
sempre estudar pra tirar boas notas, mas aí estaríamos fugindo do assunto
principal, que é o trabalho infantil, certo?
Pessoalmente, eu considero "trabalho" quando é uma ocupação para ganhar dinheiro. E fazer trabalhos domésticos não rende dinheiro. Caso contrário, eu seria muuuiiito rica.
ResponderExcluirTambém não se deve usar o termo "ajudar", porque isso dá a impressão de que a obrigação de fazer os serviços caseiros é sempre da mão. O pai e os filhos só precisam ajudar. Isso não se encontra nem na lei dos homens (Constituição) e nem na lei de Deus (Bíblia). Desafio alguém a provar o contrário.
Ora. Se o trabalho doméstico é dever de todos, cada um deve fazer aquilo que for capaz. Qualquer criança pode arrumar sua cama, seus brinquedos, suas roupas e calçados (guardar no lugar adequado), enfim, não conheço ninguém que tenha adoecido ou ficado deficiente por realizar tais atividades.
O que não se pode nunca é expor as crianças a trabalhos forçados (que ela não tenha capacidade física/intelectual para fazer), ou ao ridículo. O resto, só acrescenta na educação.
O Juliano começou a fazer o almoço quando estava na 4ª série (9/10 anos), era no fogão a lenha. O Alexandre, quando estava na 5ª série (10/11 anos)e o único "acidente" aconteceu quando ele estava cortando carne e olhando para a televisão.
E nenhum ficou afeminado ou doente. Isso terá feito algum mal?
Leia-se .... é sempre da mãe, e não mão.
ExcluirÉ isso aí, dona Clenilda!
ExcluirA família toda tem que cuidar da casa sim, todos querem morar numa casa bem cuidada. Desde que as tarefas sejam adequadas à idade, nenhum problema.
Tomás com dois anos e meio já guarda os calçados, meias e cuecas dele. Às vezes ele confunde as gavetas, mas tudo bem!
Só que eu acredito que "serviços domésticos" a que o artigo está se referindo não é na própria casa... ainda é comum, no Nordeste, as pessoas "pegarem uma menina" do interior e levar para trabalhar na cidade, somente em troca de comida e casa. Aí não pode mesmo, vocês concordam
eu estava na cozinha, estava longe da televisão, e coloquei a faca com a ponta para cima em cima da tábua, peguei a carne , dobrei e fui passar o meio dela na faca, e então empurrei a carne para baixo, para cortar um nervo da carne...
ResponderExcluirkkkkkkkkkk nunca vou esquecer a mãe contando da "emoção" ao ver você com as mãos entre as pernas, hahahhahahahahahhahahhahahahahah
Excluirera pra tentar estancar o sangramento :P
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