quarta-feira, 27 de junho de 2012

Trabalho infantil

Li uma notícia outro dia (BBC Brasil), falando que tem uma espécie de sindicato defendendo trabalho infantil em alguns países latino-americanos (sugiro leitura da noticia pra saber exatamente do que se trata).

Grr, esse assunto, sinceramente, me irrita. Vou tentar explicar, mas já aviso que provavelmente eu me perca em tanta coisa que tenho pra falar...
Primeiro, vamos às fontes:
Tem um texto interessantíssimo publicado na Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. No decorrer da leitura, fala muito que as crianças são exploradas em áreas como prostituição e trafico de drogas.
Mais abaixo, lê-se o seguinte:
O trabalho infantil na região urbana se encontra principalmente no setor informal, (...) sendo que 16% do trabalho doméstico não é remunerado. (...) Já no meio rural, dois terços das crianças e adolescentes não recebem salário. Esse índice inclui as crianças que trabalham com suas famílias. (...)”
“(...) A inserção no trabalho nas famílias de imigrantes italianos, alemães e poloneses do sul do país representa uma maneira de ensinar um ofício e ajudar na renda dos pais. Embora comecem o trabalho muito cedo, essas crianças não deixam de freqüentar a escola. Uma situação bem diferente é a das crianças que trabalham pesado, sem nunca freqüentar a escola.”

E, claro, não dá pra deixar de citar o documento da Secretaria de Direitos Humanos: Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador

- “(...) são deveres da família, da sociedade e do Estado: Assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocálos a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
- “(...) considerando como exploração qualquer espécie de trabalho que prejudique a escolaridade básica.”
- “(...) piores formas de trabalho infantojuvenil, classificadas em quatro categorias:
a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como vendas e tráfico de crianças, sujeição por dívida e servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados;
b) utilização, procura e oferta de criança para fins de prostituição, de produção de material pornográfico ou espetáculos pornográficos;
c) utilização, procura e oferta de crianças para atividades ilícitas, particularmente para produção e tráfico de drogas, conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes;
d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são executados, são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança.”
- “(...) Mas basta observar o cotidiano atual para perceber indícios de que ainda subsistem fortemente os elementos do velho paradigma. Muitas famílias continuam a enxergar o trabalho de crianças e adolescentes como uma forma de “prevenção” contra os males da marginalização. Convencer muitos setores da sociedade e do Estado do fato de que não é o trabalho precoce, mas sim a educação, que pode garantir um futuro melhor, continua a ser um grande desafio.

Depois de ler tudo isso eu fiquei mais calma, mas mesmo assim preciso dizer que me dá uma raiva imensa dessa gente que se importa demais com os outros. Pra começar que eu acho que se as crianças querem trabalhar, deixa que trabalhem. E chega de comparar trabalhos domésticos com prostituição e tráfico de drogas!
Lendo, percebi que eu faço parte da população que tem a “mentalidade perversa”, e que acha que criança tem que trabalhar...
Lógico que eu sou contra crianças trabalhando com drogas, prostituição, plantações de cana e essas outras formas de trabalho mais abusivo, mas comparar essas formas de exploração com o trabalho “caseiro” é sacanagem.
Eu acho sim que criança pode ajudar a lavar uma louça e que não precisa ser paga por isso... Qual é? Quem limpa a casa tem que ser a mesma pessoa que paga as contas, única e exclusivamente? Ou então devemos voltar praquela época em que um trabalhava e o outro cuidava da casa?
Hoje em dia empregadas domésticas são artigo de luxo... Aqui onde eu moro não é fácil “sustentar” uma espécie rara dessas. Além de ter poucas no mercado, ainda por cima custa uma fortuna (em média 100 reais por um dia de trabalho... As que eu conheci não trabalham as 8 horas). Considerando esse fato, não tem como trabalhar e ainda ter uma empregada.
Aí vai um pouco da minha criação, que foi em outra época (que não era chata e cheia de regras como essa... A época em que criança respeitava pai e mãe, assim como a professora), pois eu comecei trabalhar em casa quando deu a idade (acho que em torno dos 14 anos).
Óbvio que eu reclamava até pelos cotovelos, mas isso é porque adolescente reclama de tudo mesmo e não tem noção de quanto custa trabalhar pra pagar as contas... Mas depois que cresci, percebo que ter trabalhado foi bom... Hoje em dia eu sei cozinhar, limpar a casa, lavar e passar roupa... Eu não acho que fui explorada, eu ganhava as roupas que queria, os calçados que queria, tinha minha maquiagem, meus brinquedos, meu material escolar sempre em dia... Não tinha tudo o que queria e quando queria, mas ganhava. Eu trabalhei como babá por uma época também, e eu tinha meu próprio dinheirinho, podia economizar, controlar as moedas e fingir que era gente.
E tem o seguinte: pra fazer “tudo” o que minha mãe mandava eu demorava pouquíssimo (variava considerando a vontade de fazer e quanto eu demoraria bolando planos pra sabotar minhas tarefas sem minha mãe perceber), e tinha tempo de sobra pra brincar com minhas amigas, fofocar, escrever no diário, estudar (não que eu gostasse) e ligar na rádio pedindo pra tocar as músicas que eu queria gravar na fita.
Eu (e grande parte das pessoas da minha faixa etária e de faixas anteriores) sou a prova viva de que (pouco (vejam bem: eu estou não estou falando de escravidão, chicotada pra quando esquecer de lavar o cantinho do banheiro e deixar sem comida!)) trabalho infantil não atrapalha a educação, a moral, a hora de brincar e enfim, não atrapalha em nada.

E aí, falando de estudar, eu me lembrei de mais uma questão: querem tanto que as crianças só estudem, mas e quem disse que criança quer estudar? Sim, eu sei que temos exceções, mas eu nunca conheci uma dessas quando eu estava na escola... Ir pra escola e ter que prestar atenção já era um tédio, mas ter que fazer trabalho em casa e estudar pra prova era demais...
Quero dizer com isso que não adianta você “forçar” a criança a estudar. Comigo funcionava o “se você não passar de ano você vai ver só!”, “se você tirar nota abaixo da média você vai ver só”, mas é porque eu me borrava de medo do “vai ver só” (e além disso eu não queria ser mais burra que meus irmãos mais velhos).
Se você não deu a educação básica pro teu filho ele não vai estudar nem em casa e nem na escola, porque hoje em dia só obedece professor quem quer.
Na escola, quem não quer estudar pode escolher dois caminhos: ficar quieto ou incomodar. Quem optar pela segunda opção geralmente vai agredir todo mundo, física e/ou psicologicamente e o máximo que o professor pode fazer é falar. Se falar não adiantar, ele leva pro coordenador, e depois pro diretor. Convenhamos que se o aluno for mal educado, ele não vai ligar pra nada do que os três falarem. Aí chama-se os pais do meliante, e se os pais não conseguiram ensinar antes, qual a diferença pro “agora”?
Eu não conheço formas de “forçar” as pessoas a fazer coisas que elas não queiram fazer... Você não convence ninguém a pagar uma conta que não queira a não ser que a pessoa corra o real risco de ir presa por isso. Você não convence ninguém sem perigos reais, e ameaçar crianças a ficarem sem o brinquedinho preferido ou a não poder sair do quarto, sinceramente, não é nenhum perigo. 

(O trechoa seguir foi sugestão do Alexandre, pois eu não tinha explicado direito a ideia) 

Também não adianta tentar “forçar” (novamente esse forçar que não existe) a criança a trabalhar, a estratégia então seria convencê-la de que será bom para ela, para que não se torne uma “obrigação”. Como fazer isso eu não sei, mas creio que estimular com prêmios, presentes e coisas que você não costuma dar pra ela (um jogo de lápis de cor com mais de 12 cores, por exemplo, hahaha (sério, isso teria funcionado comigo!))... De qualquer forma, na minha humilde e antiquada opinião, é melhor ocupar a criança com afazeres, seja lá quais forem(domésticos ou ajudar os pais no comércio da família, por ex), do que deixá-los “à Deus dará”, apenas com o livre arbítrio de escolher entre estudar e brincar. Sim, jogos educativos também seria boa ideia, pois então você poderia deixar a criança “brincando” o dia inteiro, pois ela estaria estudando e nem perceberia... Outra ideia seria fazer alguma coisa que estimule a criança a sempre estudar pra tirar boas notas, mas aí estaríamos fugindo do assunto principal, que é o trabalho infantil, certo?

Bom, mas claro que temos que erradicar a exploração e blábláblá, mas dizer que criança e adolescente não pode trabalhar é um exagero.

6 comentários:

  1. Pessoalmente, eu considero "trabalho" quando é uma ocupação para ganhar dinheiro. E fazer trabalhos domésticos não rende dinheiro. Caso contrário, eu seria muuuiiito rica.
    Também não se deve usar o termo "ajudar", porque isso dá a impressão de que a obrigação de fazer os serviços caseiros é sempre da mão. O pai e os filhos só precisam ajudar. Isso não se encontra nem na lei dos homens (Constituição) e nem na lei de Deus (Bíblia). Desafio alguém a provar o contrário.
    Ora. Se o trabalho doméstico é dever de todos, cada um deve fazer aquilo que for capaz. Qualquer criança pode arrumar sua cama, seus brinquedos, suas roupas e calçados (guardar no lugar adequado), enfim, não conheço ninguém que tenha adoecido ou ficado deficiente por realizar tais atividades.
    O que não se pode nunca é expor as crianças a trabalhos forçados (que ela não tenha capacidade física/intelectual para fazer), ou ao ridículo. O resto, só acrescenta na educação.
    O Juliano começou a fazer o almoço quando estava na 4ª série (9/10 anos), era no fogão a lenha. O Alexandre, quando estava na 5ª série (10/11 anos)e o único "acidente" aconteceu quando ele estava cortando carne e olhando para a televisão.
    E nenhum ficou afeminado ou doente. Isso terá feito algum mal?

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    1. Leia-se .... é sempre da mãe, e não mão.

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    2. É isso aí, dona Clenilda!

      A família toda tem que cuidar da casa sim, todos querem morar numa casa bem cuidada. Desde que as tarefas sejam adequadas à idade, nenhum problema.

      Tomás com dois anos e meio já guarda os calçados, meias e cuecas dele. Às vezes ele confunde as gavetas, mas tudo bem!

      Só que eu acredito que "serviços domésticos" a que o artigo está se referindo não é na própria casa... ainda é comum, no Nordeste, as pessoas "pegarem uma menina" do interior e levar para trabalhar na cidade, somente em troca de comida e casa. Aí não pode mesmo, vocês concordam

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  2. eu estava na cozinha, estava longe da televisão, e coloquei a faca com a ponta para cima em cima da tábua, peguei a carne , dobrei e fui passar o meio dela na faca, e então empurrei a carne para baixo, para cortar um nervo da carne...

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    1. kkkkkkkkkk nunca vou esquecer a mãe contando da "emoção" ao ver você com as mãos entre as pernas, hahahhahahahahahhahahhahahahahah

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  3. era pra tentar estancar o sangramento :P

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